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Vandalismo, furto, abandono e danificação: de 77 monumentos públicos de Santa Maria, apenas cinco estão conservados

Vandalismo, furto, abandono e danificação: de 77 monumentos públicos de Santa Maria, apenas cinco estão conservados

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Monumento ao Ferroviário, no Bairro Itararé

A maioria dos monumentos espalhados em espaços públicos de Santa Maria estão deteriorados e vandalizados ou já não estão mais completos em função dos furtos. Dentre as 77 estruturas que estão localizadas em 15 áreas da cidade, apenas cinco estão em ótimo estado de conservação, ou seja, não apresentam nenhuma irregularidade. Os dados são de um levantamento da Secretaria de Cultura, que foi realizado no mês de junho deste ano por uma equipe do curso de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

– Uma preocupação que tínhamos era justamente não saber em que estado se encontravam esses monumentos aqui em Santa Maria. Tínhamos aqui na Secretaria de Cultura uma referência dos locais e dos monumentos existentes na cidade. Em conversa com o curso de Arquivologia, conseguimos estabelecer a possibilidade do curso ir até esses locais, fotografar e nos passar uma descrição real e atualizada da situação atual de como estavam as estruturas. Esse trabalho nos foi entregue no final de junho e, agora, dispomos disso para ter mapeado o que existe e até para poder planejar o que vamos fazer – explica a secretária adjunta de Cultura, Fabrise Muller.

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No total, a pasta de Cultura tinha uma listagem com 107 monumentos. No documento, não consta o responsável que havia elaborado o levantamento nem a data em que foi feito. Destes, 34 estão dentro da UFSM e 11 estão em áreas privadas. Assim, para a atualização do mapeamento, a equipe tinha 53 obras para averiguar. Durante o trabalho nas ruas, foram identificadas mais estruturas, o que resultou na análise de 77 monumentos.

Escultura Xicotencalt, na Avenida Nossa Sra. MedianeiraFoto: Nathália Schneider (Diário)

O levantamento foi coordenado por três professores do departamento de Arquivologia da UFSM, Fernanda Kieling Pedrazzi, Jorge Alberto Soares Cruz e Sonia Elisabete Constante. Cinco estudantes do curso também participaram do mapeamento (Bianca Ferreira Comassetto, Caroline do Nascimento Moraes, Maira Narel Ribeiro Farnos, Nicole Oleques Machado Ilha e Rita de Cássia Souza Dornelles).

No total, foram 15 dias de trabalho. Quatro dias foram dedicados apenas para verificar a situação dos monumentos em vias públicas. O restante do período foi utilizado para pesquisa em materiais de referência produzidos sobre o tema e organização dos dados encontrados. No relatório constam, além da condição atual da estrutura, um breve histórico da obra, o tipo de material, o artista responsável, a localização e as inscrições do monumento, que correspondem às frases de homenagem e identificação.

Escultura Petrealma - Sutar, na Avenida Nossa Sra. MedianeiraFoto: Nathália Schneider (Diário)

– Embora fossem poucas saídas, tivemos um envolvimento muito grande na parte da pré-produção do levantamento e na pós-produção, em que reunimos todas as informações que levantamos, as observações feitas e cruzamos com os materiais que já existiam no passado e, ainda, produzimos o relatório em que fizemos um apanhado dos monumentos por logradouro – relata a professora do curso de Arquivologia, Fernanda Kieling Pedrazzi.

A ideia é que o levantamento sirva como uma referência tanto para se pensar em ações de restauração quanto para contribuir com um monitoramento mais efetivo dos monumentos em Santa Maria.

– Foi um trabalho custoso, de grande dificuldade para conseguirmos organizar e fazer todo o levantamento. Sabemos que, infelizmente, pela falta de educação do povo, pela falta de consciência a respeito do patrimônio histórico, as pessoas não valorizam esses monumentos e acabam por destruir essas informações, que são o que nos fazem sentirmos pertencentes a esse lugar. Sabendo que isso é uma prática de uma pequena parte da população, que não reconhece e se acha no direito de privar toda comunidade disso, registramos o máximo possível para que isso possa ser recomposto ou recuperado no futuro de alguma forma para que os monumentos não caiam no esquecimento  – conta Fernanda.

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Furtos, vandalismo e deterioração: a condição atual dos monumentos do município

A maior parte dos monumentos em vias públicas da cidade estão localizados na Avenida Rio Branco, na Avenida Presidente Vargas e na Praça Saldanha Marinho. Somente nestes três espaços são 37 estruturas que reúnem bustos, estátuas, esculturas, obeliscos e placas.

Na Avenida Rio Branco, dentre os 15 monumentos, apenas três ainda têm placas. Os demais, além da falta de identificação, foram vandalizados, apresentam rachaduras, estão sujos, desgastados, com pedestais quebrados e alguns em meio à vegetação.

O único classificado em “ótimo estado de conservação” é o busto do Coronel João Niederauer Sobrinho, que fica no canteiro central da Avenida Rio Branco. Esse monumento, que é um dos mais antigos da cidade, já havia sido depredado e tido algumas peças furtadas em outros momentos. No ano passado, foi restaurado pelo artista peruano e professor aposentado da UFSM, Juan Amoretti, e reinaugurado em setembro de 2022.

Na Praça General Osório, conhecida como Praça do Mallet, além dos seis monumentos mapeados que estão desgastados, vandalizados e furtados, pelo menos, outros seis (bustos) sumiram com o tempo.

Um caso inusitado no espaço também aconteceu com o busto de Cezimbra Jacques, patrono do tradicionalismo. Em 2018, a estrutura foi decepada, sendo furtada apenas a cabeça e, permanecendo, o resto no pilar. O Diário noticiou que, após o fato, a cabeça havia sido encontrada e seria feita a restauração. Contudo, o busto não está mais por lá. Questionada, a prefeitura confirmou que, em 2018, fez a instalação novamente do monumento na praça, mas que, atualmente, não possui mais informações sobre o furto deste busto.

Foto: Gabriel Haesbaert (arquivo Diário)

Outra via com grande quantidade de obras é a Avenida Presidente Vargas, com quatro monumentos, sete esculturas e um mural. Assim como em outros espaços, o que ainda restou está deteriorado, com sujeiras, desgastes, limo, rachaduras e vandalizado, com furtos e pichações. 

Uma das obras, mural do artista Eduardo Kobra, está tão danificada que a prefeitura optou por não fazer a restauração. O mural está instalado nos fundos do prédio da Biblioteca Pública Municipal Henrique Bastide. O local vai ser reformado e a promessa é que um novo mural de artistas locais seja produzido no lugar do atual.

Foto: Eduardo Ramos (Diário)

Já na Praça Saldanha Marinho, como já foi noticiado pelo Diário em maio deste ano, o que mais chama a atenção é o furto dos bustos. Dentre os seis que estavam no local, resta apenas um. O busto em bronze do poeta santa-mariense, Felippe d’Oliveira, do escultor Victor Brecheret, era um dos que possuía grande valor histórico e artístico e estava na praça até abril deste ano.

– No mês passado um rapaz britânico estava visitando o Coliseu e fez uma inscrição com o nome dele, da namorada e com o número 23, referindo-se ao ano, em uma das paredes do Coliseu, que é um monumento com dois mil anos. Então, isso não é uma questão só dos brasileiros, só dos santa-marienses, mas isso é uma questão de educação para o patrimônio. Chegamos em 2023 com uma obra feita por um artista de renome que foi furtada da praça e tantas outras obras. Nem todas de pessoas com tanto tamanho e importância como Brecheret, mas que também tem a sua importância pela homenagem que faz – comenta a professora Fernanda.

Fotos: Gabriel Haesbaert (esquerda) e Eduardo Ramos (direita) (arquivo Diário)

Na praça, também encontram-se dois monumentos que vão passar por uma revitalização em breve: o Coreto e o Chafariz, ambos trabalhos do engenheiro alemão Richard Ziemeck Klaue e inaugurados em 1935. Esses, inclusive, são as únicas estruturas com perspectiva de manutenção pelo poder público no município todo atualmente.

Placa no Monumento ao FerroviárioFoto: Nathália Schneider (Diário)

“Não temos um plano de ação para o restante dos espaços e das obras que foram danificadas”, afirma secretária adjunta de Cultura

A secretária adjunta de Cultura do município, Fabrise Muller, lamentou a condição dos monumentos em Santa Maria e disse que ações para evitar que novos furtos e depredações aconteçam são importantes:

– Nos coloca em estado de alerta para o que ainda existe e o que for feito de agora em diante para que se tenha todo um trabalho de segurança e de monitoramento. Eram espaços importantes da nossa cidade e não deixam de ser, mas realmente nos coloca numa condição de ter um cuidado em relação ao que vai ser feito de agora em diante para que não se repitam ações de furto e de danificações. Isso, justamente, nos faz pensar em como vamos agir de agora em diante para que o que for construído e o que for feito seja mantido e preservado em Santa Maria.

Apesar dessa preocupação, a prefeitura ainda não organizou um plano de restauração dos monumentos deteriorados e nem tem uma previsão de quando isso deve ser feito. Por enquanto, conforme Fabrise, o foco é na revitalização do Coreto e do Chafariz, na Praça Saldanha Marinho.

Coreto, na Praça Saldanha MarinhoFoto: Nathália Schneider (Diário)

– Ainda não temos perspectiva, no momento, estamos focados em recuperar o Chafariz, que é um espaço importante também da história de Santa Maria, e o Coreto. O nosso foco está nesse sentido e não temos especificado um plano de ação para o restante dos espaços e das obras que foram danificadas. A possibilidade sempre existe, mas ainda não fizemos esse planejamento. Primeiro, precisamos ver como vai ser o monitoramento com a questão das câmaras e do policiamento nesses locais. Então, antes de qualquer coisa, o nosso objetivo vai ser justamente ver o que pode ser feito e o que pode continuar protegido – destaca Fabrise.

Com relação aos bustos furtados recentemente da Praça Saldanha Marinho, Fabrise também mencionou que não há projetos para retomadas das obras:

– Quanto a questão dos bustos que foram furtados e danificados ainda não temos um plano de recuperação. Tem coisas que foram retiradas há anos e, agora, com o roubo do busto do Felippe d’Oliveira, vieram à tona de novo. (O restante) nem temos registrado em que período e em que ano, foram furtados. Agora, estamos focando na recuperação da Praça Saldanha Marinho, nesses dois espaços que mencionei – diz a secretária adjunta.

Escultura de Renato Brunelo, na Avenida Nossa Sra. MedianeiraFoto: Nathália Schneider (Diário)

Autores dos furtos dos bustos já foram identificados e polícia investiga possíveis receptadores

Em abril deste ano, três obras que estavam na Praça Saldanha Marinho foram furtadas. Os bustos eram do poeta Felippe D’Oliveira, do fundador da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Mariano da Rocha, e do ator Leopoldo Fróes. Naquela época, o Diário percorreu cinco espaços públicos para verificar a situação das demais estruturas desse tipo. Dentre os 14 bustos encontrados, apenas cinco resistiram à criminalidade na região central de Santa Maria.

Como citado pela secretária adjunta de Cultura, Fabrise Muller, a prefeitura não sabe quando aconteceram os furtos dos outros monumentos. Assim, o inquérito instaurado na 1ª Delegacia de Polícia (DP), que ainda está em andamento, investiga apenas o desaparecimento dos três bustos furtados em abril.

Fotos: Gabriel Haesbaert (esquerda) e Eduardo Ramos (direita) (arquivo Diário)

O delegado  da 1ª DP, Carlos Alberto Gonçalves, está coordenando a investigação. O comissário de polícia da 1ª DP, Luis Pozzobon, também está à frente do caso. Até o momento, três autores dos furtos já foram identificados e, agora, a equipe está trabalhando para descobrir a identidade dos receptadores.

– Eu vou ser bem franco, acredito que já foram desmanchados porque na praça tinham sido levados mais de três bustos antes de abril, então, se já tinham sido levados antes é porque conseguiram desmanchar, senão, eles não continuariam furtando. Ninguém vai vender um busto ou vai guardar, mas provavelmente vai desmanchar e vender por quilo de cobre. O inquérito não terminou porque ainda não foi descoberto o que foi feito com os bustos – detalha o comissário.

A previsão é que o inquérito seja finalizado em torno de 15 dias. Após, os autores dos furtos devem ser indiciados.

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